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As Chances que a Vida nos dá

A sensação de impotência que permeia a confusão de palavras que nos são ditas num momento em que tudo parece caminhar muito bem costuma me deixar perplexo. Mesmo acostumado as peças que a vida costuma me pregar, ainda me surpreendo com os rumos de algumas situações. Me confesso inexperiente nesta inconstância do amor. O ir e vir constante de pessoas que conhecemos, de palavras e carinhos que trocamos com ilustres desconhecidos que atraem nosso interesse. Ilustres que chegam e partem antes que a lua some quatro ciclos.

Acho que ando mal-acostumado com essa falta de amor. O amor tem o hábito de chegar quando a gente menos espera ou, melhor, quando a gente não espera nada. E mesmo acostumados ao efêmero, a fragilidade da duração e o tempo que parece nunca ser o certo, a gente se entrega, na intenção de descobrir algo maior que exista ali. Pelo menos para mim, as coisas funcionam assim.

Ando de coração bem aberto, querendo que as possibilidades de uma relação a dois aconteça. Aquela vontade danada de estar apaixonado em intensidade estratosférica.

Vislumbrei essa possibilidade, num momento em que não estava esperando nada além de ficadas e curtição. Lógico que o romance não durou. E por incrível que pareça, não foi por falta de vontade, por diferenças de comportamento ou antagonismo dos gênios. Nos dávamos muito bem em todos os sentidos. Havia uma certeza de que se o romance caminhasse, a possibilidade de uma paixão aconteceria. O leitor deve estar se perguntando o que foi que deu errado então. Não houve nada de errado, mas estávamos longe do acerto, porque não havia disposição para o amor acontecer naquele momento.

A vida é feita de fases. Fases em que pensamos, exclusivamente, em trabalho, em projetos e objetivos a serem alcançados e, nos sobra, pouco tempo, para pensar em amor Pouco tempo para dividir os espaços com quem se gosta. Uma relação não é pouca coisa na vida de uma pessoa. Ela demanda tempo do nosso dia, exige presença, afeto, milhares de pensamentos e, em determinados momentos da nossa vida, parece impossível coordenar isto com todo o resto. Isto causa uma grande confusão na cabeça. A gente quer, mas não quer agora. A gente gosta, mas não sabe se vai se apaixonar. E, principalmente, a gente tem medo. Medo da proporção que isto vá tomar na nossa vida, num momento, em que não esperamos nada além de botar a casa em ordem e se divertir muito.

A vida nos dá a chance destas escolhas. E, em determinados momentos, não queremos escolher nada. Queremos deixar o barco correr e tratar de assuntos mais objetivos. Não acredito que exista tempo errado do amor acontecer na nossa vida. Ele acontece sempre na hora certa. Como diz um poema de Pablo Neruda: “ e aquele dia foi como nunca e sempre. Vamos ali onde não se espera nada, e encontramos tudo que estava esperando.”

São as chances que a vida nos dá. Se vamos aproveitar, aí é uma outra estória e uma outra coluna.

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