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Divergências Profissionais

  • Crítica - Fundo do Baú - Alexandre Pontara
  • 26 de fev. de 2010
  • 2 min de leitura

Texto inédito do premiado autor inglês Joe Penhall ganha adaptação e direção acertada de Guilherme Leme

Um texto ambientado num hospital psiquiátrico retratando jogos de poder entre médicos e divergências de diagnóstico teria todos os requisitos para ser técnico, enfadonho e pouco compreensível ao espectador. Não é o caso. Ao assistir Laranja Azul, em cartaz no CCBB-RJ, nos deparamos com o brilhantismo e agilidade da escrita de Joe Penhall num roteiro que discute problemas relacionados à saúde pública e ao racismo institucionalizado.

Num hospital psiquiátrico um paciente negro (Rocco Pitanga) aguarda alta em meio ao fogo cruzado de dois médicos de posições hierárquicas diferentes e diagnósticos divergentes.

De um lado, o médico residente zeloso (Pedro Brício) que afirma ser o paciente esquizofrênico; de outro seu supervisor (Rogério Fróes), preocupado em seguir as regras e regulamentos e diminuir as despesas, que tenta convencê-lo de que o paciente é borderline e, portanto, deve receber alta.

A adaptação de Guilherme Leme e Marcelo Veloso para o texto de Penhall, recheado de jargões técnicos próprios da medicina, com cerca de uma hora de duração, torna o texto mais palatável e compreensível ao espectador, mas deixa algumas lacunas sobre o verdadeiro estado clínico do paciente e não se aprofunda muito em questões pertinentes, como o racismo e a exclusão social, fazendo com que o texto perca um pouco sua força. O foco deixa de ser o estado mental do paciente para se concentrar no embate entre os dois médicos e suas divergências profissionais.

O elenco se apresenta coeso. Rocco Pitanga defende bem o papel de doente mental e se mostra à vontade na personagem. Rogério Fróes e Pedro Brício tem atuações corretas.

A montagem de Guilherme Leme traz uma concepção bem cuidada e muito interessante. Logo na entrada, o público é convidado a vestir jalecos brancos antes de entrar na sala que os transforma em parte do universo proposto pela direção. O ótimo cenário de José Dias - todo branco – nos remete à sensação de assepsia de um hospital e é complementada pela iluminação idealizada em branco, muito bem elaborada por Tomás Ribas. A luz contribui com acerto para as transições de cena embalada por uma trilha sonora perturbadora de Marcelo H. recheada de punk rock.

Enfim, Laranja Azul é um bom espetáculo, onde se propõe um teatro mais sóbrio, feito por gente séria, que busca discutir temas importantes relacionados à sociedade.

Coluna publicada em 02/2010 - Guia da Semana - Artes e Teatro

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Bio

Alexandre Pontara, ou apenasumalexandre como ele costuma assinar, é artista visual, escritor multiplataforma, poeta, ator, diretor teatral e mais um bocado de outras coisas.

Em 2020, em meio a pandemia do coronavírus, assina o roteiro do espetáculo online "Desafio Hitchcock", um formato inovador em linguagem, único no mundo, idealizado pelo diretor André Warwar. Nesse espetáculo, com cortes ao vivo e linguagem que transita pelo teatro, cinema, tv e reality, 7 atores em cena, cada um em sua casa, atuam e transmitem, em tempo real, suas imagens para o diretor, que corta e monta ao vivo. O público tem a ilusão e certeza de que estão todos num mesmo ambiente. Uma experiência imersiva, ao vivo, em tempo real.

Também, em 2020, assina o projeto visual "Entre 4 Paredes", onde através de estímulos fotográficos de artistas e amigos em seu isolamento social, cria releituras em arte visual, com uma potência artística e linkada aos temas contemporâneos. O projeto se transformou em uma exposição na Linha de Cultura do Metrô SP em 2021.

Entre 2018 e 2020, lançou o manifesto transmídia Poética em Transe, em que artistas das mais variadas vertentes dão voz a contemporaneidade da sua poesia e dialogam com os incômodos de uma sociedade midiática. Foi um dos produtores da 1ª edição do Festival Audiovisual FICA.VC, em 2017 no Rio de Janeiro. Entre 2008 e 2011, foi crítico teatral do Guia da Semana.

Como diretor teatral, o foco de sua pesquisa está no trabalho investigativo sobre a interferência da linguagem audiovisual no espaço cênico.

A Cidade das Mariposas, encenada em 2011, marca sua estreia como dramaturgo e diretor teatral. Em 2013, adaptou e dirigiu Fausto Zero de Goethe e assinou a Direção Artística da Ocupação Primus Arte Movimento do Teatro Glauce Rocha no Rio de Janeiro.

Além de Cidade das Mariposas, é autor dos textos teatrais O Mastim, Doze Horas para o Fim do Mundo, O Processo Blake, Entre Irmãos, As Últimas Horas e Man Machine 2.0, das antologias poéticas “Poemas Mundanos”, “Poesia Urbana” e “Sombras” e do roteiro de cinema “Doze horas para o Fim do Mundo”.

Alexandre Pontara

Artista visual, ator, diretor, poeta de mídias interativas, escritor multiplataforma e uma mente digital.

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