top of page
Buscar

Despertar

  • Colunas - Fundo do Baú - Alexandre Pontara
  • 25 de dez. de 2009
  • 4 min de leitura

A renovação da arte quando acontece passa primeiro pela palavra

E 2009 vai chegando ao fim. O Brasil diminui seu ritmo para as festividades de final de ano. E como ser tecnológico que viu nascer a internet e passou a integrá-la como parte do seu cotidiano, vou deixando a web de lado, pelo menos, por uns dias, para curtir um pouco o prazer e a companhia real dos parentes e amigos que permaneceram longe durante o ano e que o único contato foi possível através de telefonemas, e-mails, MSN, facebook, orkut e tantas outras ferramentas. Mas antes desse período sabático, que deve se prolongar pelos próximos 15 dias, deixo minha última contribuição para 2009, um ano que me proporcionou grandes lições, me pôs a prova em outras, me trouxe a possibilidade de resolver antigas pendências e me permitiu trazer o melhor de mim em escritas e textos que devem se perpetuar pelo menos nos próximos dez anos.

Desculpem se a frase acima denota prepotência ou arrogância, mas não é esta a intenção. O ano de 2009 me amadureceu como ser humano e, principalmente, como escritor. Me mostrou caminhos que até então não havia trilhado e que foram fatores condicionantes para o estabelecimento de uma nova linguagem para a forma como me relaciono com a escrita e o leitor. Assim o foi com Cidade das Mariposas, texto que entrará em cartaz em 2010, ainda sem data definida e para o novo texto que está nascendo com o título Doze Horas para o Fim do Mundo. Esse foi um ano de busca e reencontro com a minha essência como escritor. Uma necessidade de renovação e aprendizado que só é possível após se chegar a um determinado momento de uma jornada de vida e perceber que etapas foram cumpridas e que um novo mundo de possibilidades se descortina para você.

E essa necessidade de renovação que percebo não só em mim, mas em muitos artistas da cena carioca. Esse foi um ano atípico que poucas coisas fizeram diferença no teatro.

Muitos dos bons espetáculos que estiveram em cartaz já vieram de uma estreia que ocorreu em 2008. Pouco se inovou este ano. É claro que tivemos boas estreias, bons atores em cena, algumas grandes interpretações, mas no geral tudo tem ficado na forma, na grandiosidade, na estética e pouco na humanidade necessária da personagem que a conecta com o público, que o faz acreditar e viver durante aquele pouco tempo aquela vida que lhe é colocada diante dos olhos.

Espetáculos como Zoológico de Vidro e Viver sem Tempos Mortos têm grandes interpretações de Cássia Kiss e Fernanda Montenegro e realmente emocionaram. Ver Fernanda em cena em toda a simplicidade de uma Simone de Beauvior, apenas ela, o público e o recurso da palavra foi uma das cenas mais emocionantes e que chegou a me causar arrepios. Uma das grandes interpretações de 2009, que mostram mais uma vez que o grande ator é o mestre daquele espaço.

Na mesma condição, apesar de formatos diferentes, vemos espetáculos como In on It do canadense Daniel Macivor e Rebú de Jô Bilac, que comprovam que a receita do teatro se faz de texto e ator.

Em paralelo tivemos outros bons espetáculos que os incluiria na categoria entretenimento puro. Veja bem, a palavra não é proferida em tom pejorativo. Despertar da Primavera, Avenida Q e Gloriosa são espetáculos sem grandes questões a serem discutidas, apenas com a função de contar uma boa estória e divertir o espectador.

Boas montagens com elenco coeso. E é claro, teve gente também que correu por fora e uma das grandes surpresas foi o espetáculo Clandestinos de João Falcão. Espetáculo com gente jovem e desconhecida, texto dinâmico e muita diversão e que deve migrar do teatro para a telinha da TV no ano que vem. Um exemplo de que o bom teatro nasce de pequenos desejos, ideias e anseios.

Avaliando a produção teatral, é possível perceber a ausência de bons textos nacionais, escritos para a nossa gente. Quando traçamos um paralelo entre o teatro brasileiro, o americano e o inglês, percebemos a riqueza da cultura dos últimos dois, a pluralidade de estéticas e a profusão de autores. Talvez por isso o grande interesse de atores, produtores, diretores em montar textos estrangeiros. Textos que discorrem sobre grandes questões universais e, que por isso, atraem nossa atenção. O Brasil parece engatinhar no quesito novos autores, pouca gente boa tem surgido na última década e alguns autores tidos como promessas. Bom... por enquanto são apenas promessas.

Portanto, para 2010, fica aqui o meu incentivo para que a produção literária teatral comece a contar cada vez mais com novos autores nacionais, gente disposta a construir um novo capítulo no teatro brasileiro, e de produtores, atores, diretores dispostos a apostar neles, pois a renovação da linguagem e da estética de que tanto falo só será possível através da palavra.

Um super 2010 para nós e para o teatro.

Coluna publicada em 12/2009 - Guia da Semana - Artes e Teatro

paperback-writer-duncan-roberts.jpg

Bio

Alexandre Pontara, ou apenasumalexandre como ele costuma assinar, é artista visual, escritor multiplataforma, poeta, ator, diretor teatral e mais um bocado de outras coisas.

Em 2020, em meio a pandemia do coronavírus, assina o roteiro do espetáculo online "Desafio Hitchcock", um formato inovador em linguagem, único no mundo, idealizado pelo diretor André Warwar. Nesse espetáculo, com cortes ao vivo e linguagem que transita pelo teatro, cinema, tv e reality, 7 atores em cena, cada um em sua casa, atuam e transmitem, em tempo real, suas imagens para o diretor, que corta e monta ao vivo. O público tem a ilusão e certeza de que estão todos num mesmo ambiente. Uma experiência imersiva, ao vivo, em tempo real.

Também, em 2020, assina o projeto visual "Entre 4 Paredes", onde através de estímulos fotográficos de artistas e amigos em seu isolamento social, cria releituras em arte visual, com uma potência artística e linkada aos temas contemporâneos. O projeto se transformou em uma exposição na Linha de Cultura do Metrô SP em 2021.

Entre 2018 e 2020, lançou o manifesto transmídia Poética em Transe, em que artistas das mais variadas vertentes dão voz a contemporaneidade da sua poesia e dialogam com os incômodos de uma sociedade midiática. Foi um dos produtores da 1ª edição do Festival Audiovisual FICA.VC, em 2017 no Rio de Janeiro. Entre 2008 e 2011, foi crítico teatral do Guia da Semana.

Como diretor teatral, o foco de sua pesquisa está no trabalho investigativo sobre a interferência da linguagem audiovisual no espaço cênico.

A Cidade das Mariposas, encenada em 2011, marca sua estreia como dramaturgo e diretor teatral. Em 2013, adaptou e dirigiu Fausto Zero de Goethe e assinou a Direção Artística da Ocupação Primus Arte Movimento do Teatro Glauce Rocha no Rio de Janeiro.

Além de Cidade das Mariposas, é autor dos textos teatrais O Mastim, Doze Horas para o Fim do Mundo, O Processo Blake, Entre Irmãos, As Últimas Horas e Man Machine 2.0, das antologias poéticas “Poemas Mundanos”, “Poesia Urbana” e “Sombras” e do roteiro de cinema “Doze horas para o Fim do Mundo”.

Alexandre Pontara

Artista visual, ator, diretor, poeta de mídias interativas, escritor multiplataforma e uma mente digital.

  • Instagram
  • Twitter
  • YouTube
logo_argumento_prosa1.png
© 2015-2024 "apenasumalexandre".
Site oficial de Alexandre Pontara.
Todos os direitos reservados.
assinatura_apenasumalexandre_definitiva_
bottom of page