Nos últimos meses tem se falado muito sobre a crise e os efeitos dela na produção cultural brasileira. Atores e produtores teatrais são uníssonos quando o assunto é a falta de patrocínio e a dificuldade de captação em leis de incentivo. É fato que antes mesmo da crise aportar por aqui, o dinheiro já havia escasseado, como uma resposta prévia ao ano turbulento e de poucos recursos que se esperava.
Departamentos de marketing de grandes empresas passaram a remanejar suas verbas para atividades que tivessem como foco principal o retorno de receita e aumento de vendas. Atividades que visassem o marketing cultural e institucional passaram a ter uma participação mais modesta, de foco secundário, dentro da estrutura.
O fato é que produzir espetáculos de pequeno, médio e grande porte no Brasil, tem sido uma das tarefas árduas e dispendiosas para quem não dispõe dos recursos financeiros necessários. São inúmeras companhias de teatro, grupos, atores isolados e produtores que, a cada ano, tentam e levam aos palcos projetos com um mínimo de dignidade e retorno necessário para sua manutenção em cartaz. O setor encontrou nas leis de incentivo uma saída para a realização de espetáculos, mas que não atende a todos, tornando a cultura refém do patrocínio para existir.
No final, quem paga a conta é o próprio governo, que converte parte do dinheiro público em benefícios fiscais para empresas que estão apenas antecipando o dinheiro de impostos a serem recolhidos. Em contrapartida, a esta antecipação do pagamento de impostos (que chamamos de patrocínio), a empresa ainda se beneficia de marketing institucional, mídia impressa e associação de sua marca como incentivadora da cultura.
E mesmo com tantos benefícios provenientes dessa subvenção, conseguir patrocínio no Brasil ainda é para poucos e demanda tempo, conhecimento e uma boa rede de relacionamentos. Como é de conhecimento dos leitores deste espaço, além de colunista do Guia da Semana, também sou ator, escritor e produtor teatral e, como tal, também vivencio as mesmas dificuldades na produção de um espetáculo.
Hoje disponho de dois projetos em fase de captação de investidores. O primeiro, de médio porte, foi aprovado pela Lei Rouanet, e que já foi encaminhado para cerca de 30 empresas, sem sucesso e, muitas vezes, com a mesma resposta padrão. O segundo, de pequeno porte, possui baixo orçamento e não se beneficia de lei alguma, mas ainda assim, necessita de investimento.
Os custos da produção de um espetáculo e sua permanência são altos. Locação de teatro, aluguel de luz e som, contratação de equipe técnica, custos administrativos, salário de atores, material gráfico... Um espetáculo teatral nada mais é do que uma pequena empresa, composta de recursos humanos, marketing, produção, logística e financeiro. Assim como qualquer negócio em formação, necessita de capital para que se concretize. É um serviço que será oferecido para o consumidor final, que depende da venda de ingressos para que traga retorno.
Mas o patrocinador vê o espetáculo sob a ótica de um investidor e o avalia criteriosamente do ponto de vista financeiro e publicitário. O artista, muitas vezes, não tem essa visão de negócio e acaba encarando esta associação como um favor que a iniciativa privada está prestando a ele. Vale ressaltar que nesta relação patrocinador/artista/governo, quem paga a conta, numa visão simplista, é o próprio governo que o subsidia através de leis.
Se considerarmos a premissa de que todos os projetos apresentados se valem da lei para captar, qual é o critério para fazer com que a empresa opte por patrocinar um projeto e não outro? Na minha opinião como produtor (e cabe ressaltar, trata-se de uma opinião pessoal), o primeiro critério é o elenco. Nomes de peso possuem prioridade. Em segundo lugar, a forma como o marketing do espetáculo pode gerar retorno financeiro. Em terceiro, e não menos importante, o próprio texto, abordagem e montagem.
Cada vez mais os critérios de seleção se tornam mais restritivos. Departamentos de marketing, por conta da crise, são os primeiros a sofrerem com corte de verbas.
Tem muita empresa operando no vermelho. De que adianta a Lei Rouanet, se não há imposto a abater? Com isso, o apelo de pagar menos imposto é muito pequeno, restando a divulgação da marca em si. A profissionalização do setor cultural no país ainda engatinha no que se refere a investimentos e ao tratamento que deveria se dar como indústria de entretenimento. Torna-se necessário uma mudança de mentalidade estratégica e nos mecanismos utilizados para atrair investimentos, sejam eles de ordem privada ou governamental.
Coluna publicada em 05/2009 - Guia da Semana - Artes e Teatro