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A Difícil Conta de Um Espetáculo

  • Colunas - Fundo do Baú - Alexandre Pontara
  • 29 de mai. de 2009
  • 3 min de leitura

Nos últimos meses tem se falado muito sobre a crise e os efeitos dela na produção cultural brasileira. Atores e produtores teatrais são uníssonos quando o assunto é a falta de patrocínio e a dificuldade de captação em leis de incentivo. É fato que antes mesmo da crise aportar por aqui, o dinheiro já havia escasseado, como uma resposta prévia ao ano turbulento e de poucos recursos que se esperava.

Departamentos de marketing de grandes empresas passaram a remanejar suas verbas para atividades que tivessem como foco principal o retorno de receita e aumento de vendas. Atividades que visassem o marketing cultural e institucional passaram a ter uma participação mais modesta, de foco secundário, dentro da estrutura.

O fato é que produzir espetáculos de pequeno, médio e grande porte no Brasil, tem sido uma das tarefas árduas e dispendiosas para quem não dispõe dos recursos financeiros necessários. São inúmeras companhias de teatro, grupos, atores isolados e produtores que, a cada ano, tentam e levam aos palcos projetos com um mínimo de dignidade e retorno necessário para sua manutenção em cartaz. O setor encontrou nas leis de incentivo uma saída para a realização de espetáculos, mas que não atende a todos, tornando a cultura refém do patrocínio para existir.

No final, quem paga a conta é o próprio governo, que converte parte do dinheiro público em benefícios fiscais para empresas que estão apenas antecipando o dinheiro de impostos a serem recolhidos. Em contrapartida, a esta antecipação do pagamento de impostos (que chamamos de patrocínio), a empresa ainda se beneficia de marketing institucional, mídia impressa e associação de sua marca como incentivadora da cultura.

E mesmo com tantos benefícios provenientes dessa subvenção, conseguir patrocínio no Brasil ainda é para poucos e demanda tempo, conhecimento e uma boa rede de relacionamentos. Como é de conhecimento dos leitores deste espaço, além de colunista do Guia da Semana, também sou ator, escritor e produtor teatral e, como tal, também vivencio as mesmas dificuldades na produção de um espetáculo.

Hoje disponho de dois projetos em fase de captação de investidores. O primeiro, de médio porte, foi aprovado pela Lei Rouanet, e que já foi encaminhado para cerca de 30 empresas, sem sucesso e, muitas vezes, com a mesma resposta padrão. O segundo, de pequeno porte, possui baixo orçamento e não se beneficia de lei alguma, mas ainda assim, necessita de investimento.

Os custos da produção de um espetáculo e sua permanência são altos. Locação de teatro, aluguel de luz e som, contratação de equipe técnica, custos administrativos, salário de atores, material gráfico... Um espetáculo teatral nada mais é do que uma pequena empresa, composta de recursos humanos, marketing, produção, logística e financeiro. Assim como qualquer negócio em formação, necessita de capital para que se concretize. É um serviço que será oferecido para o consumidor final, que depende da venda de ingressos para que traga retorno.

Mas o patrocinador vê o espetáculo sob a ótica de um investidor e o avalia criteriosamente do ponto de vista financeiro e publicitário. O artista, muitas vezes, não tem essa visão de negócio e acaba encarando esta associação como um favor que a iniciativa privada está prestando a ele. Vale ressaltar que nesta relação patrocinador/artista/governo, quem paga a conta, numa visão simplista, é o próprio governo que o subsidia através de leis.

Se considerarmos a premissa de que todos os projetos apresentados se valem da lei para captar, qual é o critério para fazer com que a empresa opte por patrocinar um projeto e não outro? Na minha opinião como produtor (e cabe ressaltar, trata-se de uma opinião pessoal), o primeiro critério é o elenco. Nomes de peso possuem prioridade. Em segundo lugar, a forma como o marketing do espetáculo pode gerar retorno financeiro. Em terceiro, e não menos importante, o próprio texto, abordagem e montagem.

Cada vez mais os critérios de seleção se tornam mais restritivos. Departamentos de marketing, por conta da crise, são os primeiros a sofrerem com corte de verbas.

Tem muita empresa operando no vermelho. De que adianta a Lei Rouanet, se não há imposto a abater? Com isso, o apelo de pagar menos imposto é muito pequeno, restando a divulgação da marca em si. A profissionalização do setor cultural no país ainda engatinha no que se refere a investimentos e ao tratamento que deveria se dar como indústria de entretenimento. Torna-se necessário uma mudança de mentalidade estratégica e nos mecanismos utilizados para atrair investimentos, sejam eles de ordem privada ou governamental.

Coluna publicada em 05/2009 - Guia da Semana - Artes e Teatro

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Bio

Alexandre Pontara, ou apenasumalexandre como ele costuma assinar, é artista visual, escritor multiplataforma, poeta, ator, diretor teatral e mais um bocado de outras coisas.

Em 2020, em meio a pandemia do coronavírus, assina o roteiro do espetáculo online "Desafio Hitchcock", um formato inovador em linguagem, único no mundo, idealizado pelo diretor André Warwar. Nesse espetáculo, com cortes ao vivo e linguagem que transita pelo teatro, cinema, tv e reality, 7 atores em cena, cada um em sua casa, atuam e transmitem, em tempo real, suas imagens para o diretor, que corta e monta ao vivo. O público tem a ilusão e certeza de que estão todos num mesmo ambiente. Uma experiência imersiva, ao vivo, em tempo real.

Também, em 2020, assina o projeto visual "Entre 4 Paredes", onde através de estímulos fotográficos de artistas e amigos em seu isolamento social, cria releituras em arte visual, com uma potência artística e linkada aos temas contemporâneos. O projeto se transformou em uma exposição na Linha de Cultura do Metrô SP em 2021.

Entre 2018 e 2020, lançou o manifesto transmídia Poética em Transe, em que artistas das mais variadas vertentes dão voz a contemporaneidade da sua poesia e dialogam com os incômodos de uma sociedade midiática. Foi um dos produtores da 1ª edição do Festival Audiovisual FICA.VC, em 2017 no Rio de Janeiro. Entre 2008 e 2011, foi crítico teatral do Guia da Semana.

Como diretor teatral, o foco de sua pesquisa está no trabalho investigativo sobre a interferência da linguagem audiovisual no espaço cênico.

A Cidade das Mariposas, encenada em 2011, marca sua estreia como dramaturgo e diretor teatral. Em 2013, adaptou e dirigiu Fausto Zero de Goethe e assinou a Direção Artística da Ocupação Primus Arte Movimento do Teatro Glauce Rocha no Rio de Janeiro.

Além de Cidade das Mariposas, é autor dos textos teatrais O Mastim, Doze Horas para o Fim do Mundo, O Processo Blake, Entre Irmãos, As Últimas Horas e Man Machine 2.0, das antologias poéticas “Poemas Mundanos”, “Poesia Urbana” e “Sombras” e do roteiro de cinema “Doze horas para o Fim do Mundo”.

Alexandre Pontara

Artista visual, ator, diretor, poeta de mídias interativas, escritor multiplataforma e uma mente digital.

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