top of page
Buscar

Os Reis do Improviso

  • Crítica - Fundo do Baú - Alexandre Pontara
  • 31 de out. de 2008
  • 3 min de leitura

As relações de poder existentes entre homens e mulheres e a competição gerada por elas sempre renderam boas piadas no universo masculino. Quando um grupo de homens se junta, muitas vezes, o assunto se resume a futebol e mulher. E já que o assunto a ser discutido não é o Kaká ou a escalação da seleção pelo técnico Dunga, vamos falar então... de mulher.

Para todo bom primata criado nos preceitos mais ortodoxos da escola machista, mulher é sinônimo de boa dona-de-casa, de mãe zelosa na educação dos filhos, que sabe fazer bons quitutes e que não tenha muita opinião sobre política, religião ou qualquer tema que seja assunto de homem. Para um bom machista que segue a cartilha da AMC – Associação dos Machistas Convictos – mulher não deveria votar ou, melhor, se é para votar, que vote no candidato escolhido por ele. Mulher não deveria dirigir, afinal, as ruas já estão perigosas demais com tanta violência e, principalmente, respeitar as duas horas dedicadas ao time do coração durante cada partida do campeonato brasileiro, do campeonato carioca, da Taça Libertadores, do campeonato espanhol, do inglês, do italiano, afinal, o futebol não é uma paixão e, sim, uma filosofia de vida. O fato é que todo macho de respeito no fundo tem um cafajeste dentro de si. Afinal, já faz parte do pacote e vem escrito no DNA de cada um de nós.

E, como todo bom cafajeste, devemos tomar o cuidado de expressar nosso poder e preconceito do universo feminino na forma de piadas, onde nenhuma mulher escapa, principalmente, as loiras. Este é o tema preferido de quatro homens na comédia musical Os Cafajestes, em cartaz no Teatro das Artes.

A comédia é uma divertida caricatura do universo masculino, recheado de piadas sobre mulheres. O texto escrito por Aninha Franco, ganhador do Prêmio Sharp de Melhor Musical Brasileiro de 1995, traz novamente a assinatura do diretor Fernando Guerreiro de Camila Baker e A Bofetada.

O espetáculo é um deboche ao preconceito masculino, composto por canções machistas de diversas épocas e estilos.

Juan Alba vive Alencar, um romântico à moda antiga apaixonado pela esposa Adelaide. Osvaldo Mil é Alfredinho, um playboy de 35 anos que se considera garanhão. Fabio Lago é Estevão, um verdadeiro troglodita que garante que sua atual esposa o chama de senhor, tira seus sapatos e beija seus pés. Leo Jaime interpreta Onório, vítima freqüente de piadas, representa aquilo que o homem mais teme: tornar-se um corno manso.

O espetáculo é garantia de riso certo. No melhor estilo stand-up comedy, os quatro atores improvisam e interagem com a platéia. Osvaldo Mil e Fábio Lago roubam a cena. Ambos possuem tempo certo de comédia, rapidez no improviso e abusam da caricatura corporal. Léo Jaime está ótimo em cena como Onório., mostrando que além de músico tem dom para a comédia.

O grande sucesso desta montagem está na interação direta com o público e no improviso rápido. E, nestes momentos, Osvaldo Mil e Fábio Lago dão um show, mostrando que além de bons atores são grandes comediantes.

O cenário é bem econômico, com poucos elementos cênicos e a luz de Berilo Nosella bem trabalhada, de forma a garantir que o foco seja o ator.

Um espetáculo para ser visto por machões, Amélias, Catarinas, feministas e o público em geral

Coluna publicada em 10/2008 - Guia da Semana - Artes e Teatro

cafajestes-07g.jpg

Bio

Alexandre Pontara, ou apenasumalexandre como ele costuma assinar, é artista visual, escritor multiplataforma, poeta, ator, diretor teatral e mais um bocado de outras coisas.

Em 2020, em meio a pandemia do coronavírus, assina o roteiro do espetáculo online "Desafio Hitchcock", um formato inovador em linguagem, único no mundo, idealizado pelo diretor André Warwar. Nesse espetáculo, com cortes ao vivo e linguagem que transita pelo teatro, cinema, tv e reality, 7 atores em cena, cada um em sua casa, atuam e transmitem, em tempo real, suas imagens para o diretor, que corta e monta ao vivo. O público tem a ilusão e certeza de que estão todos num mesmo ambiente. Uma experiência imersiva, ao vivo, em tempo real.

Também, em 2020, assina o projeto visual "Entre 4 Paredes", onde através de estímulos fotográficos de artistas e amigos em seu isolamento social, cria releituras em arte visual, com uma potência artística e linkada aos temas contemporâneos. O projeto se transformou em uma exposição na Linha de Cultura do Metrô SP em 2021.

Entre 2018 e 2020, lançou o manifesto transmídia Poética em Transe, em que artistas das mais variadas vertentes dão voz a contemporaneidade da sua poesia e dialogam com os incômodos de uma sociedade midiática. Foi um dos produtores da 1ª edição do Festival Audiovisual FICA.VC, em 2017 no Rio de Janeiro. Entre 2008 e 2011, foi crítico teatral do Guia da Semana.

Como diretor teatral, o foco de sua pesquisa está no trabalho investigativo sobre a interferência da linguagem audiovisual no espaço cênico.

A Cidade das Mariposas, encenada em 2011, marca sua estreia como dramaturgo e diretor teatral. Em 2013, adaptou e dirigiu Fausto Zero de Goethe e assinou a Direção Artística da Ocupação Primus Arte Movimento do Teatro Glauce Rocha no Rio de Janeiro.

Além de Cidade das Mariposas, é autor dos textos teatrais O Mastim, Doze Horas para o Fim do Mundo, O Processo Blake, Entre Irmãos, As Últimas Horas e Man Machine 2.0, das antologias poéticas “Poemas Mundanos”, “Poesia Urbana” e “Sombras” e do roteiro de cinema “Doze horas para o Fim do Mundo”.

Alexandre Pontara

Artista visual, ator, diretor, poeta de mídias interativas, escritor multiplataforma e uma mente digital.

  • Instagram
  • Twitter
  • YouTube
logo_argumento_prosa1.png
© 2015-2024 "apenasumalexandre".
Site oficial de Alexandre Pontara.
Todos os direitos reservados.
assinatura_apenasumalexandre_definitiva_
bottom of page