As relações de poder existentes entre homens e mulheres e a competição gerada por elas sempre renderam boas piadas no universo masculino. Quando um grupo de homens se junta, muitas vezes, o assunto se resume a futebol e mulher. E já que o assunto a ser discutido não é o Kaká ou a escalação da seleção pelo técnico Dunga, vamos falar então... de mulher.
Para todo bom primata criado nos preceitos mais ortodoxos da escola machista, mulher é sinônimo de boa dona-de-casa, de mãe zelosa na educação dos filhos, que sabe fazer bons quitutes e que não tenha muita opinião sobre política, religião ou qualquer tema que seja assunto de homem. Para um bom machista que segue a cartilha da AMC – Associação dos Machistas Convictos – mulher não deveria votar ou, melhor, se é para votar, que vote no candidato escolhido por ele. Mulher não deveria dirigir, afinal, as ruas já estão perigosas demais com tanta violência e, principalmente, respeitar as duas horas dedicadas ao time do coração durante cada partida do campeonato brasileiro, do campeonato carioca, da Taça Libertadores, do campeonato espanhol, do inglês, do italiano, afinal, o futebol não é uma paixão e, sim, uma filosofia de vida. O fato é que todo macho de respeito no fundo tem um cafajeste dentro de si. Afinal, já faz parte do pacote e vem escrito no DNA de cada um de nós.
E, como todo bom cafajeste, devemos tomar o cuidado de expressar nosso poder e preconceito do universo feminino na forma de piadas, onde nenhuma mulher escapa, principalmente, as loiras. Este é o tema preferido de quatro homens na comédia musical Os Cafajestes, em cartaz no Teatro das Artes.
A comédia é uma divertida caricatura do universo masculino, recheado de piadas sobre mulheres. O texto escrito por Aninha Franco, ganhador do Prêmio Sharp de Melhor Musical Brasileiro de 1995, traz novamente a assinatura do diretor Fernando Guerreiro de Camila Baker e A Bofetada.
O espetáculo é um deboche ao preconceito masculino, composto por canções machistas de diversas épocas e estilos.
Juan Alba vive Alencar, um romântico à moda antiga apaixonado pela esposa Adelaide. Osvaldo Mil é Alfredinho, um playboy de 35 anos que se considera garanhão. Fabio Lago é Estevão, um verdadeiro troglodita que garante que sua atual esposa o chama de senhor, tira seus sapatos e beija seus pés. Leo Jaime interpreta Onório, vítima freqüente de piadas, representa aquilo que o homem mais teme: tornar-se um corno manso.
O espetáculo é garantia de riso certo. No melhor estilo stand-up comedy, os quatro atores improvisam e interagem com a platéia. Osvaldo Mil e Fábio Lago roubam a cena. Ambos possuem tempo certo de comédia, rapidez no improviso e abusam da caricatura corporal. Léo Jaime está ótimo em cena como Onório., mostrando que além de músico tem dom para a comédia.
O grande sucesso desta montagem está na interação direta com o público e no improviso rápido. E, nestes momentos, Osvaldo Mil e Fábio Lago dão um show, mostrando que além de bons atores são grandes comediantes.
O cenário é bem econômico, com poucos elementos cênicos e a luz de Berilo Nosella bem trabalhada, de forma a garantir que o foco seja o ator.
Um espetáculo para ser visto por machões, Amélias, Catarinas, feministas e o público em geral
Coluna publicada em 10/2008 - Guia da Semana - Artes e Teatro