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A Forma das Coisas

  • Crítica - Fundo do Baú - Alexandre Pontara
  • 27 de jun. de 2008
  • 2 min de leitura

Até onde estamos dispostos a ir por uma crença? Quais os limites que somos capazes de ultrapassar em nome do amor e de uma idéia? Que verdades omitimos dos outros e de nós mesmos para justificar nossos desejos?

O espetáculo “A Forma das Coisas”, do dramaturgo e diretor americano Neil Labute (autor do bem sucedido “Baque”, encenado em 2005 no Brasil), e tradução de Marcos Ribas de Faria, em cartaz no Espaço SESC-Copacabana, traz à luz algumas respostas a respeito da interferência da arte no cotidiano e quais os efeitos transformadores que acarretam na vida de quatro jovens estudantes de uma universidade norte-americana. O texto se propõe a um exame das relações de amor, amizade, cumplicidade e os conflitos gerados a partir destes relacionamentos.

Evelyn (Carol Portes) e Adam (Pedro Osório) são completamente diferentes. Ela é uma bela e arrojada estudante de Artes, prestes a concluir seu mestrado. Ele, um sujeito tímido e introspectivo, que trabalha como guarda do Museu da Universidade. O que a princípio poderia sugerir apenas uma comédia sessão da tarde, nas mãos de Neil Labute tem um certo sabor de provocação. A adaptação e montagem idealizada e dirigida por Guilherme Leme com co-direção de Pedro Neschling está impecável. Doses certas de humor e boas sacadas de interpretação dão o tempero que garante momentos de diversão durante o espetáculo.

Os quatro atores que dividem o espetáculo parecem ter entendido a essência do trabalho de Labute e dão a tônica certa ao quarteto de amigos. Carol Portes está bem segura no papel de Evelyn, demonstrando coerência e talento na construção de seu personagem, garantindo os melhores momentos do espetáculo. Pedro Osório, indicado ao Prêmio Shell em 2001 por Trainspotting, em ótima atuação, consegue criar um Adam leve e tímido, transpondo para o palco a insegurança e os conflitos presentes na personalidade do personagem. A Diana, de Karla Dalvi, tem a carga dramática e a leveza necessária para fazer o contraponto com a personalidade da Evelyn defendida por Carol Portes. O explosivo Johnny, bem defendido por André Cursino, completa o quadro de atores.

O ponto forte do espetáculo está na direção e concepção de Guilherme Leme que consegue construir um espetáculo com as cores certas de Labute. O espaço cênico é uma atração à parte e o cenário de Aurora dos Campos participa da construção da trama, se adequando e se transformando conforme o próprio Adam se transforma. A iluminação do grande Maneco Quinderé e a trilha sonora de Marcello H completam o trabalho do diretor, garantindo um espetáculo rico em conceito e plasticidade.

Mais do que apenas discutir a arte, “A Forma das Coisas” propõe uma discussão sobre os limites da interferência do artista na vida das pessoas, o resto não se pode contar, correndo-se o risco de estragar a grande surpresa que o final do espetáculo

Coluna publicada em 06/2008 - Guia da Semana - Artes e Teatro

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Bio

Alexandre Pontara, ou apenasumalexandre como ele costuma assinar, é artista visual, escritor multiplataforma, poeta, ator, diretor teatral e mais um bocado de outras coisas.

Em 2020, em meio a pandemia do coronavírus, assina o roteiro do espetáculo online "Desafio Hitchcock", um formato inovador em linguagem, único no mundo, idealizado pelo diretor André Warwar. Nesse espetáculo, com cortes ao vivo e linguagem que transita pelo teatro, cinema, tv e reality, 7 atores em cena, cada um em sua casa, atuam e transmitem, em tempo real, suas imagens para o diretor, que corta e monta ao vivo. O público tem a ilusão e certeza de que estão todos num mesmo ambiente. Uma experiência imersiva, ao vivo, em tempo real.

Também, em 2020, assina o projeto visual "Entre 4 Paredes", onde através de estímulos fotográficos de artistas e amigos em seu isolamento social, cria releituras em arte visual, com uma potência artística e linkada aos temas contemporâneos. O projeto se transformou em uma exposição na Linha de Cultura do Metrô SP em 2021.

Entre 2018 e 2020, lançou o manifesto transmídia Poética em Transe, em que artistas das mais variadas vertentes dão voz a contemporaneidade da sua poesia e dialogam com os incômodos de uma sociedade midiática. Foi um dos produtores da 1ª edição do Festival Audiovisual FICA.VC, em 2017 no Rio de Janeiro. Entre 2008 e 2011, foi crítico teatral do Guia da Semana.

Como diretor teatral, o foco de sua pesquisa está no trabalho investigativo sobre a interferência da linguagem audiovisual no espaço cênico.

A Cidade das Mariposas, encenada em 2011, marca sua estreia como dramaturgo e diretor teatral. Em 2013, adaptou e dirigiu Fausto Zero de Goethe e assinou a Direção Artística da Ocupação Primus Arte Movimento do Teatro Glauce Rocha no Rio de Janeiro.

Além de Cidade das Mariposas, é autor dos textos teatrais O Mastim, Doze Horas para o Fim do Mundo, O Processo Blake, Entre Irmãos, As Últimas Horas e Man Machine 2.0, das antologias poéticas “Poemas Mundanos”, “Poesia Urbana” e “Sombras” e do roteiro de cinema “Doze horas para o Fim do Mundo”.

Alexandre Pontara

Artista visual, ator, diretor, poeta de mídias interativas, escritor multiplataforma e uma mente digital.

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